quinta-feira, 4 de junho de 2009

O CRACK, 14 QUILOS A MENOS EM UMA SEMANA

Em São Paulo, aconteceu o pior... Conheci o crack, que tanto havia escutado falar...

Eu estava bem com minha irmã. Ajudava ela a cuidar de minha sobrinha, ela confiava em mim. Ela era casada com um cara, que trabalhava na área de segurança. Esse rapaz tinha um revólver e eu acabei roubando a arma...

Com a arma, subi a favela do Jardim Miriam e troquei o revólver, por 48 pedras de crack... Lembro-me que encheu um saquinho...

Foi arrasador, como tudo aconteceu. Eu nunca havia fumado aquilo antes... O crack, é muito violento. Chega ao cérebro em 15 segundos e o efeito é destruidor.

Com as pedras de crack, me internei em um quartinho de hotel, e fiquei seis dias, fumando as "pedras", sem parar...

Quanto mais fumava, mais vontade tinha de fumar... Era impossível parar... O crack me ressecava a garganta... Provocava-me uma tosse, que doía toda vez...

Mesmo assim, eu não parava de fumar... Fiquei aqueles seis dias sem comer e sem dormir! No sexto dia, sem sair do quarto, eu já estava um caco.

Havia emagrecido uns 14 quilos no mínimo!

Meu coração começava a doer, de tanto ter que trabalhar sob stress. Meus olhos, eram duas bolitas gigantes e estaladas, eu não conseguia sequer cerrar as pálpebras...

A coisa foi muito violenta. Iniciou-se o processo de overdose...

Comecei a estertorar, a ter convulsões, me mijei nas calças...

Comecei a me babar, e a sentir um frio horrível, que parecia que iria me congelar... Estava morrendo...

Naquela hora, me lembro que pedi mentalmente à Deus, por uma chance...

Pedi-lhe, que não me deixasse morrer! Vi, que dessa vez era o fim... Senti a morte de verdade! Naquela vez, não haveria retorno, pensei... Senti isso dentro de mim, e me apavorei, com a morte que se aproximava...

Todas as minhas forças se concentraram na imagem de Jesus, me lembrei do Salmo 23... Pedi perdão, e me apaguei...

Acordei-me no hospital de pronto-socorro de Jabaquara, com uma agulha espetado em minha veia. Era soro!

Eu não havia morrido! Cheguei a conclusão que Deus havia aceitado meu pedido, que uma nova chance havia ganhado...

E estava decidido a não desperdiçá-la mesmo...

Do hospital de Jabaquara, conseguiram uma vaga para mim na Clínica Santa Fé, em Itapira/SP. Fiquei vários meses. De lá, fui para o Hospital Charcot, de volta à São Paulo-CapitaL.

Daquela clínica, consegui entrar em contato com minha mãe, que a essas alturas morria de preocupação sobre o meu paradeiro...

Ninguém sabia, o que tinha acontecido comigo...

Minha mãe ficou muito feliz em saber, que faziam vários meses que eu estava internado, e a esperança, voltou a brilhar...

Ela resolveu me internar numa clínica em Porto Alegre, e me fez voltar para o Rio Grande do Sul...

Ainda me lembro, que, como não tinha roupas, tive que voltar no ônibus interestadual, com o uniforme do Hospital Psiquiátrico Charcot!

Foi um retorno de muita emoção para mim...

Sentia que estava voltando para casa, e que tudo havia terminado. Que dali em diante, eu iria trilhar o caminho da restauração!

Quando cheguei em Porto Alegre, ainda fiquei uns três dias na casa de minha mãe, até que surgisse uma vaga numa clínica particular, aqui em Porto Alegre.

Surgida a vaga, minha mãe me internou novamente. Mas agora, não havia mais a necessidade de tantos cuidados, pois já vinha desintoxicado de São Paulo.

Pude, de imediato, passar a receber visitas, e tive um ótimo atendimento, por parte do meu novo médico, o Dr. Rômulo Vieiro. Todos os médicos anteriores, não se acertaram comigo...

Eu tinha necessidade de conversar, de bater papo, sobre minha vida... Até de ser xingado...

Queria conselhos, queria me conhecer, queria entender minha própria doença...

Queria saber, porque tinha tanta compulsão, porque tinha tanta tentação, e como evitar a recaída...

Comecei a estudar vários livros, enquanto estava internado, e lá dentro, tive a idéia de fazer a minha primeira obra, que acabou se intitulando: "Meu Filho Não!".

Foi uma coisa incrível. Nunca havia composto um livro. Nem sabia como...

O Dr. Rômulo, muito envolvido, me apoiou, me estimulando até. Trouxe-me várias obras. Mostrou-me o CID 10-Código Internacional de Doenças, trouxe diversas publicações da área, então comecei um grande trabalho de pesquisa...

Minha mãe patrocinou a obra e mandou imprimir o primeiro milheiro. Hoje, já está na casa do 3º! As coisas foram acontecendo muito rapidamente...

Acabei indo morar no município de Porto Xavier, e lá, junto com um grupo de teatro, formado por crianças e jovens, produzimos uma fita de vídeo, que se intitulou: "Drogas, Abuso e Prevenção".

Foi um trabalho que durou sete meses para ser concluído!

Minha mãe teve que vender o carro que tinha para cobrir as despesas com a produção do filme. Todos nós trabalhamos como atores, e como quebramos a cabeça.

Foi muito difícil, maquiagem,iluminação, etc. Enfrentamos várias dificuldades. Toda a comunidade do município de Porto Xavier nos apoiou o que nos facilitou a produção. Mesmo assim foram quase sete meses de gravação. Quando terminamos as crianças não agüentavam mais...

Deus me iluminou, me orientando na montagem do roteiro e na direção.

Com a conclusão do vídeo, começamos a distribuí-lo para as escolas de todo o Brasil. Mais tarde, as pessoas começaram a nos pedir palestras para explicar a nossa abordagem e então começou o Projeto Renascer...

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